EXPOSIÇÃO VIRTUAL

Território Aberto

“O lugar onde habito, minhas fronteiras”

O sistema da arte vive um delicado momento, a crise da legitimação das grandes narrativas hegemônicas. Simpósios, seminários, palestras e encontros de todo tipo buscam rever os padrões, as estruturas e as relações com a arte contemporânea.

Essa atual condição sistêmica não consegue refletir com clareza e convicção o tempo em que vivemos, os padrões vigentes são de outra época. A crise geral dos espaços expositivos e museológicos está instaurada.

Observando o contexto atual da arte, nos deparamos com obras de caráter híbrido, transculturais, multifacetadas, polimórficas, interdisciplinares, multidisciplinares, multimidiáticas, relacionais, canibais, antropofágicas, contaminadas, multiterritoriais, etc., etc. Ou seja, o mix-total.

A noção de fronteira entre as diferentes formas culturais desapareceu ou diluiu-se a tal ponto que é impossível compreender o estágio atual da arte sem essa consciência, a qual torna obrigatória uma visão contemporânea múltipla, aliada a um pensamento contemporâneo múltiplo.

Nesse contexto, situa-se esta exposição que apresenta bons fragmentos de arte multi-territorial contemporânea.

A exposição propõe discutir “o lugar onde habito” e, ao mesmo tempo, permite aprofundar a compreensão do significado da palavra “fronteira” no “lugar da arte atual” através do olhar de um grupo de artistas contemporâneos.

Um grupo de artistas que tem em comum a busca permanente pelo conhecimento e a lapidação da sua identidade.

Um grupo que traz consigo a renúncia ao lugar geográfico, regional e local, porque este referencial é limitador. Somente sendo “de lugar nenhum” é possível alcançar um território livre, um lugar de pensamento livre, de mente livre.

Utilizam marcas das suas próprias identidades incorporadas através do autoconhecimento. Fragmentos de verdades particulares, de universos individuais, capazes de gerar obras autobiográficas, com personalidade própria, com pensamento aberto. Em outras palavras, um grupo marcado pelas diferenças.

São artistas que dão valor à pesquisa permanente como procedimento de trabalho. Porque eles têm consciência de que através dessa pesquisa a arte atualiza-se, recicla-se, sintoniza-se no tempo e permite exercitar diariamente o divino contato com a liberdade, fugindo das tendências e construindo uma rica diversidade.

As incertezas e o mistério na arte fazem parte do nosso tempo, ainda bem! Ela nos move na busca pelas respostas, enquanto que as certezas são estéreis e inertes. Certo é que arte, como ferramenta de questionamento, tem um imenso poder transformador na consciência de todos nós e, ao mesmo tempo, cumpre o papel de enriquecer a nossa existência.

São artistas com alto grau de sintonia contemporânea. Sintonias capazes de produzir obras que nascem a partir do diálogo entre verdades pessoais e a consciência do tempo em que vivemos.

Waldo Bravo (artista-curador e arte-educador)

 

 

Ficha técnica:

 

Título: “In transito”

Técnica: vídeo-arte (tempo de 1 minuto, em looping), gravuras em metal (tamanhos diversos)

 

Diálogo multi-territorial entre duas linguagens da arte: a gravura tradicional e o vídeo.

A sensibilidade visual da artista a fez reparar num fenômeno da natureza que prendeu a sua atenção: a mancha preta criada pelo agrupamento e movimentação de pequenas larvas. Uma mancha preta viva que modificava o seu próprio desenho a cada instante, evidenciando a sua efemeridade, revelando sua textura negra com maior ou menor intensidade em função do maior ou menor adensamento das larvas.

Esse fenômeno levou Vicencia a perceber uma enorme semelhança e diálogo com as manchas da cor preta nas suas gravuras. Foi como ver a sua obra viva, in-progress, em contínua mutabilidade de formas, num avanço de desenhos transitórios, em ritmo surpreendentemente cadenciado num contínuo processo de construção e desconstrução.

 


Meus trabalhos falam do universo feminino, dos sonhos de criança, do olhar curioso guardado na memória, da vida no campo, do cheiro molhado da terra, da alegria de viver.
Falo dos momentos de solidão, do olhar para a imensidão do universo e para além das coisas. De momentos vividos, não vividos, das tramas do mundo, do ser humano. Criar, para mim, é uma necessidade.