Galeria Area Artis São Paulo - SP
Esta exposição da artista Vicencia Gonsales apresenta três momentos distintos e, ao mesmo tempo, interligados da sua investigação pictórica: pinturas, pinturas-colagem e monotipias.
Dessa vez, além do suporte da tela, Vicencia expõe sua pesquisa sobre o suporte do papel, seja como colagem ou monotipia.
Se a exposição anterior se caracterizou pela homogeneidade formal e expressiva, esta se revela mais heterogênea nas técnicas e linguagens, embora igualmente coesa na temática.
Enquanto a última mostra privilegiou a ação desconstrutiva da artista sobre valores da linguagem pictórica – a desfiguração da figura e a descoloração da cor -, a atual enfatiza uma poética de composição em que a figura é o objeto central da reflexão.
De fato, a presente exposição consiste da aparição delicada, translúcida e fluida da figura do corpo feminino do fundo da pintura de onde emerge, sob cores e formas com as quais se confunde e das quais se distingue simultaneamente.
A própria eroticidade do corpo feminino, que aparece desaparecendo no lugar mesmo de onde se destaca sem se delinear completamente, explicita o recurso à técnica da colagem por parte da artista.
É que as páginas de jornal aplicadas em meio às cores constituem uma textura ótica tal que ajuda no processo de revelação-ocultação da figura em relação ao fundo. O material colado permite homogeneizá-los, dificultando a sua distinção pela visão. Trata-se de um notável recurso formal a serviço da expressão poética.
O que na mostra anterior Vicencia obtinha do fundo das telas – a luz, a transparência e a profundidade -, nesta, ela extrai o oposto: opacidade e proximidade do observador. Enquanto nos seus cenários florestais se podia penetrar com o olhar até os fundos infinitos, nas obras dessa exposição, são os próprios fundos que materializam o que se vê imediatamente.
Nesse sentido, a corporalidade que constitui o fio condutor da presente mostra, ensina o fruidor a ver mais do que os olhos enquanto tais permitem. Ensina que a corporalidade é da ordem da consistência e da volumetria, do mesmo modo que a exposição precedente da artista ensinou que a espiritualidade é da ordem da transparência, da luminosidade e da profundidade.
No entanto, o maior ensinamento de ambas as exposições é o de que o artista contemporâneo é sempre um pesquisador, um constante experimentador. É alguém que, como Vicencia Gonsales, vai de um oposto ao outro na procura do conhecimento de si e na persecução de todas as suas possibilidades expressivas.
Antonio Carlos Fortis
antropólogo
Meus trabalhos falam do universo feminino, dos sonhos de criança, do olhar curioso guardado na memória, da vida no campo, do cheiro molhado da terra, da alegria de viver.
Falo dos momentos de solidão, do olhar para a imensidão do universo e para além das coisas. De momentos vividos, não vividos, das tramas do mundo, do ser humano. Criar, para mim, é uma necessidade.
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