São Paulo - SP
Biblioteca Municipal Alceu Amoroso Lima
Rua Henrique Schaumann, 777 – Pinheiros – São Paulo (SP)
Período: 06 a 29/08/2015
“Quando Ver é mais que Ler”
Se Pablo Picasso mostrou que palavras são figuras antes de serem conceitos, sendo, portanto, objeto de discurso da arte, foi com os escritos, projetos e desenhos reunidos por Marcel Duchamp no que chamou de Caixa Verde, que surgiram os prolegômenos das poéticas contemporâneas relacionadas com a linguagem. Com essa obra (1912 e 1923) operou-se um casamento entre conceitos visuais e linguísticos até então inéditos*.
Ao considerar suas ideias, reflexões e projetos como partes integrantes da própria obra (a Caixa Verde reuniu o material de O Grande Vidro), Duchamp fez ver que a obra de arte precedia e não se esgotava na realização do objeto e que a significação podia se servir tanto das palavras quanto das imagens e das coisas para se expressar.
De fato, a arte é tanto um fenômeno de significação quanto de comunicação**, daí a possibilidade da equivalência do emprego de conceitos visuais e linguísticos nas artes. São as relações variadas e complexas entre esses domínios, descobertos e desenvolvidos pela arte contemporânea, que a presente exposição discute e explicita.
As principais matrizes discursivas com que os dezessete artistas contemporâneos refletem sobre o tema “Ver e Ler” nessa mostra são duas, uma delas se organiza em torno dos significantes do discurso visual e a outra em torno dos seus significados. Cabe ressaltar que a estrutura dessa exposição constitui um grande avanço para a especificação do debate sobre o tema, em virtude de dois principais motivos. O primeiro é o de que a arte contemporânea tomou a ela própria, isto é, a sua própria linguagem, como objeto de reflexão de si mesma (trabalho sobre os significantes), tal como a mostra evidencia. O segundo motivo é o de que os domínios do saber, os campos de conhecimento e de atividade que as artes visuais tomam como objeto de pesquisa, tornaram-se ilimitados.
Finalmente, há pelo menos uma grande lição a extrair dessa exposição: tudo que é visto é lido, mas nem tudo que é lido é visto. O que corresponde a dizer que sempre se interpreta o que se vê e que essa interpretação interfere na visão e a precede. Só se vê o que já se sabe, já que a teoria vem antes da experiência e a constrói. Daí a dificuldade de lançar um novo olhar sobre o que já se conhece e, pior ainda, a tendência de interpretar o novo com os velhos conceitos. Por isso, por paradoxal que possa parecer, é preciso desaprender a “ler” para poder ver, diz a presente mostra que o visitante tem o privilégio de observar.
(*) Cfr. FREIRE, Cristina, Arte Conceitual. Rio, Jorge Zahar, 2006.
(**) Cfr. CALABRESE, Omar, A Linguagem da Arte. Rio, Globo, 1987.
Na obra de Vicencia Gonsales, a linha permanece como elemento estruturante, a qual permeia seu processo criativo dos últimos anos. As linhas formadas com tiras de jornal toscamente cortadas e costuradas trazem a escrita com seus conteúdos, letras, desenhos, dando forma a uma nova leitura, a outro desenho, a outro objeto que escoa no espaço.
Antonio Carlos Fortis (antropólogo)
Ficha técnica:
Título: “Fluxus”
Técnica: instalação com tiras de jornal recortadas e costuradas
Dimensões (aproximadas): 4,0m (altura) x 3,0m (diâmetro inferior)
Meus trabalhos falam do universo feminino, dos sonhos de criança, do olhar curioso guardado na memória, da vida no campo, do cheiro molhado da terra, da alegria de viver.
Falo dos momentos de solidão, do olhar para a imensidão do universo e para além das coisas. De momentos vividos, não vividos, das tramas do mundo, do ser humano. Criar, para mim, é uma necessidade.
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